Coluna Releitura - Jornal Sinal de Fumaça - Edição 2
Na primeira gira do ano, especificamente na homenagem a Oxossi, em meio a folhas espalhadas pelo chão do terreiro, fui convidado a conversar com um caboclo desta linha. Ao me sentar em frente daquela entidade e ser invadido por uma alegria indescritível, começou um diálogo no mínimo curioso, pois não conseguia entender uma palavra do que este Caboclo me dizia, conseguia entender sim seu sorriso. Envergonhado, minha única reação era concordar em movimentos de ‘sim’ com a cabeça, e cada vez que me reportava com dúvida: “O que?”, ele, orgulhoso e sorridente, batia bravamente em seu peito e exclamava em alto e bom tom: “Okê”. Vencido pelo cansaço, passei a entender aquele encontro de outra forma. Acredite, diálogos não são feitos apenas de palavras, e ele sabia muito bem disso. Aquela entidade transmitia uma sensação de alegria tão intensa, que as palavras se tornaram dispensáveis. Quantas vezes em nosso dia-a-dia insistimos em dizer aquilo que poderia se fazer entender em pequenos atos, como aquele sorriso que recebi na primeira gira do ano? Sem a intenção de entrar nessa questão, convido você a refletir comigo sobre uma fase que é tão acentuada quando somos crianças e que pode se perder ao passar da idade com a mesma naturalidade com que chegou, a fase dos ‘porquês’.
Na primeira gira do ano, especificamente na homenagem a Oxossi, em meio a folhas espalhadas pelo chão do terreiro, fui convidado a conversar com um caboclo desta linha. Ao me sentar em frente daquela entidade e ser invadido por uma alegria indescritível, começou um diálogo no mínimo curioso, pois não conseguia entender uma palavra do que este Caboclo me dizia, conseguia entender sim seu sorriso. Envergonhado, minha única reação era concordar em movimentos de ‘sim’ com a cabeça, e cada vez que me reportava com dúvida: “O que?”, ele, orgulhoso e sorridente, batia bravamente em seu peito e exclamava em alto e bom tom: “Okê”. Vencido pelo cansaço, passei a entender aquele encontro de outra forma. Acredite, diálogos não são feitos apenas de palavras, e ele sabia muito bem disso. Aquela entidade transmitia uma sensação de alegria tão intensa, que as palavras se tornaram dispensáveis. Quantas vezes em nosso dia-a-dia insistimos em dizer aquilo que poderia se fazer entender em pequenos atos, como aquele sorriso que recebi na primeira gira do ano? Sem a intenção de entrar nessa questão, convido você a refletir comigo sobre uma fase que é tão acentuada quando somos crianças e que pode se perder ao passar da idade com a mesma naturalidade com que chegou, a fase dos ‘porquês’.
Trabalho com crianças, fato este que me faz refém desta pergunta diariamente. Por volta dos três a quatro anos de idade, a criança desperta para a curiosidade de entender como as coisas funcionam, isto ocorre devido ao fato da construção da própria identidade, quando a criança começa a se descobrir, ter noção do seu próprio “Eu”, da importância da sua existência, das coisas que consegue fazer, que vê ou que ouve. A partir desta descoberta passa a perceber os fatos ao seu redor dando maior ênfase a como tudo acontece, ou seja, os porquês referentes a esses. Essa curiosidade, a busca da compreensão do mundo, é que a levará a fazer novas descobertas, aguçando sua percepção para o aprender.
A Teoria Geral dos Sistemas (T.G.S) originada dos trabalhos do biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy se baseia na necessidade de avaliar uma organização como um todo, e não somente a partir de suas partes. Sem a visão abrangente do todo, tornamo-nos impossibilitados da verdadeira compreensão dos fatos, pois nos habituamos a concluí-los apenas pela visão das partes. Para a T.G.S, a aprendizagem se dá através de RUÍDOS (estímulos), estes geram uma instabilidade que nos tira da zona de conforto e nos obriga a novas organizações reflexivas/corporais. Sugiro a você leitor, propor ruídos a si mesmo e aos que o cercam, para buscar uma compreensão que sem dúvida apaziguara tantos porquês que cercam nosso pensar e muitas vezes não são exteriorizados, tirando cada um de nós dos comodismos diários, sem deixar de espelharmo-nos naquela criança que incessantemente busca o saber.
Após meu diálogo sensorial com o Caboclo de Oxossi e um forte abraço do mesmo seguido de um último “Okê”, fui pego de surpresa pela incorporação de Curumim, que, curioso, arrastava-se pelo terreiro em busca de novas descobertas, ajudando este cavalo a entender que não existem perguntas erradas, nem tampouco respostas certas, o que existe é apenas o momento em que cada um vive, pois tudo que enxergo é apenas aquilo que minha visão alcança. Jean Piaget, epistemólogo suíço, considerado o maior expoente do estudo cognitivo dizia que
"O professor não ensina, mas arranja modos de a própria criança descobrir...".
Nesta gira em questão, a criança que vos escreve precisou achar seus próprios modos de descobrir. Grandes professores do Astral, deixo aqui minha gratidão para com aqueles que, incansavelmente respondem a todos os nossos “por quê?”, “o que?”, “como?” e “quando?”, nos instigando a criar nossos próprios ruídos.
Axé.
LeiA +
Jean Piaget - http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/perog.htm
T.G.S - http://www.infoescola.com/