Textos extraídos da coluna Releitura, Jornal Sinal de Fumaça do Terreiro de Umbanda Tribo de Aruanda.
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domingo, 20 de março de 2011

Aos Pretos Novos

Pois é, primeiro de abril esta aí. Já preparou sua mentira? Mentir é contra os padrões morais de varias pessoas e é tido como um pecado em muitas religiões. As tradições éticas e filosóficas estão divididas quanto a se uma mentira é alguma situação permissível – Platão disse sim, enquanto Aristóteles, não. O fato é que certas verdades poderiam sim, serem mentiras, por tamanha difilculdade que temos de lidar com elas. Você já ouviu falar do ‘Cais do Valongo’ e do ‘Cemitério dos pretos novos’? Para mim uma verdade em que preferiria nao acreditar, decorrente de um passado nao tão distante, próximo em tempo, espaço físico e esquecido.
Quem chega ao Rio de Janeiro, se depatara com a região portuária, onde está situado o Terminal Rodoviário, e junto com ele histórias e mais estórias, tanto da elite que no século XVIII e XIX tinha esta região como morada nobre, quanto daqueles subordinados desta mesma. Segundo Elio Gaspari, colunista da Folha de São Paulo, em seu texto ‘O Rio ganhou dois presentes da história” da edição de 11 de março: “Devolvido à superfície, o cais do Valongo trará ao século XXI o maior porto de chegada de escravos do mundo. Se ele foi soterrado e esquecido, isso se deveu à astuta amnésia que expulsa o negro da história do Brasil.” Local onde milhares de negros desembarcavam ao chegar em terras brasileiras, este cais será ressucitado, e enquanto memorial, nos fará lembrar da dívida histórica que temos com o continente africano e seu povo.
No sítio arqueológico "Cemitério dos Pretos Novos", localizado na Rua Pedro Ernesto, no bairro da Gamboa, centro da cidade do Rio de Janeiro (região portuária), foi descoberto um dos mais importantes patrimônios históricos da humanidade. Lá eram enterrados os africanos recém-chegados, ou “pretos novos”, que morriam ainda nos armazéns do mercado de escravos. O cemitério funcionou de 1779 a 1831 e foi desativado depois do surgimento da lei que proibia o tráfico de escravos. Na época, o Rio concentrava a maior população urbana de negros escravos do mundo. E, apesar da lei, eles continuaram chegando até 1850. Havia outro bom motivo para a desativação do cemitério: as reclamações dos moradores locais, incomodados com o cheiro dos corpos amontoados e com medo de uma possível disseminação de doenças. Segundo artigos que estou lendo sobre o tema, os cadáveres eram cobertos por tão pouca terra que às vezes a chuva os descobria e eles ficavam amontoados por vários dias.
Se você acha que hoje o Brasil recebe muito bem aqueles que chegam em seu solo, saiba que nem sempre foi assim. O sonho de voltar para junto dos seus antepassados, na África, não se concretizou nem mesmo depois da morte para mais de 600 mil negros trazidos à força no século XIX para serem vendidos em leilões. A morte nos porões dos navios negreiros ou à luz do dia, diante da multidão, quando doentes e atordoados eram arrastados ao mercado de escravos tão logo desembarcavam no Porto do Rio de Janeiro, apenas garantiu a esses africanos morrer antes de serem escravizados no Brasil. Pela tradição religiosa dos negros bantos, cultuada por esse contingente de africanos, vindos de várias partes da África Central, como Luanda, Moçambique, Benguela, Congo, o sepultamento em cova funda era parte importante do ritual para o retorno ao seu continente e o reencontro com os entes queridos. Mas o destino final daqueles que não resistiam aos sofrimentos da viagem era uma área de 110 m2, situada no antigo caminho do bairro de Gamboa.
E você, gostaria que eu estivesse mentindo? Infelizmente os trabalhos de vários pesquisadores não me sede este luxo. Claro que para entendermos melhor o comportamento destas sociedades em questão, precisamos compreender o processo de evolução dos povos. Durante a elaboração da minha monografia do curso de Dança pela Faculdade de Artes do Paraná, pesquisando as sensações corporais na incorporação de Preto Velho na Umbanda, me aproximei deste contexto. Quando nos aproximamos de outra realidade que não a nossa, algumas coisas entendemos, outras nem tanto. Trago até você uma realidade que provavelmente você já conheça, por se tratar daqueles que cultua freqüentemente em uma gira de Pretos Velhos, mas que vale sempre lembrar de forma verdadeira.
Deixemos todas as nossas mentiras para o dia primeiro de abril, e os demais dias, lembremos de algumas verdades que construíram o que somos hoje. Entre grandes, pequenas, ou mentiras necessárias, opte sempre pela grande, pequena ou necessária verdade. Pode acreditar! Este texto vai para todos nós, atores do cotidiano, mestres em pequenas omissões e grandes esquecimentos.    
Que tal abrirmos a gira para os Pretos Novos? Lições de vida não faltarão.
Axé
Referencias:
Cemitério dos pretos novos – HTTP://www.pretosnovos.com.br
Cais do Valongo - http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/03/09
Jornal Folha de SP – Elio Gaspari-  http://acervo.folha.com.br/fsp/2011/3/9/2

9 comentários:

  1. "Melhor doer pela verdade do que pela mentira, mas de preferência que não doa....". Parabéns pelo texto....como sempre, nos faz refletir sobre a vida e nossas ações.....

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  2. Esta negra página da história do Brasil e de todos os países escravocratas nos comove e muito; porém às vezes me pego pensando, por que eles? E aí vem com toda força a Lei de Causa e Efeito. Os algozes de hoje foram as vítimas de ontem e vice-versa? Não importa. Deixemos que a história siga seu curso e aprendamos com esses maravilhosos espíritos redimidos. Enquanto isso, em São Paulo, a capital econômica do país, novos escravos chegam, aos montes. São chineses que chegam ilegamente, anônimos e estão nos porões das fabriquetas de confecções, sem direito ao descanso,à vida e à luz.Trabalham sem cessar dia e noite.Isto eu digo porque eu mesma vi, senão se ouvisse, eu diria ser mentira. E o que dizer dos trabalhadores escravos das lavouras, dos garimpos, que a TV joga aí na nossa cara? É, meu amigo Marinho, estamos longe de sermos uma civilização na acepção perfeita da palavra. Com os desencarnes coletivos e as mudanças climáticas, sabemos que o planeta está se transformando de um planeta de provas e expiações para um planeta de regeneração. Sejamos espíritos dignos desta nova civilização, então!!! Sem mentiras, nem subterfúgios!!!
    Moema

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  3. A nossa vida é um eterno primeiro de abril. Nos vivemos mentindo.Talvez nos pegamos esse mal hábito da classe politica que passam sua vida mentindo e iludindo o povo. Mas como já afirmava o publicitário do sanguinário Hitler; uma mentira dita sistematicamente acaba se transformando em uma verdade. A maioria do povo adora ouvir uma mentira, para, talvez viver da ilusao de que um dia as coisas podem melhorar para o seu lado. parabéns pelo conteudo do texto, mais uma vez, impecável. um grande abraço.

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  4. Marinho, teu blog está muito bom. Continue assim,criando textos bonitos, simples, inteligentes e que revelam a tua intimidade de fé e respeito à nossa religião. Essa postagem Pretos Novos trouxe-me a lembrança de um fato curioso e pouca gente sabe. No Porto de Cima, onde o pessoal desliza com boias no Rio Nhundiquara, bem dentro da Cidade a 100 mts da praça principal, tem um cemitério dividido em três lotes, cada um com uma Cruz das Almas. No primeiro estão sepultados os de cor branca, outro vazio e o ultimo onde eram sepultados só os de cor negra. É o retrato do preconceito que era refletido nos cemitérios de antanho, como está muito exposto em seu texto. Axé, Pai Fernando - diretor do Terreiro do Pai Maneco.

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  5. Marinho, teu blog está muito bom. Continue assim,criando textos bonitos, simples, inteligentes e que revelam a tua intimidade de fé e respeito à nossa religião. Essa postagem Pretos Novos trouxe-me a lembrança de um fato curioso e pouca gente sabe. No Porto de Cima, onde o pessoal desliza com boias no Rio Nhundiquara, bem dentro da Cidade a 100 mts da praça principal, tem um cemitério dividido em três lotes, cada um com uma Cruz das Almas. No primeiro estão sepultados os de cor branca, outro vazio e o ultimo onde eram sepultados só os de cor negra. É o retrato do preconceito que era refletido nos cemitérios de antanho, como está muito exposto em seu texto. Axé, Pai Fernando - diretor do Terreiro do Pai Maneco.

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  7. Adorei seu texto!!!!!muito reflexivo !Michelle

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