Textos extraídos da coluna Releitura, Jornal Sinal de Fumaça do Terreiro de Umbanda Tribo de Aruanda.
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segunda-feira, 30 de maio de 2011

QUERIDO KIWI

Prepare-se, vou falar coisas duras.
Sábado marcado por uma bronca após outra. Eu especificamente recebi uma dose dupla e sem gelo por favor. Seu Juvenal não estava para brincadeira e nesta noite enluarada não lembrei mais dele com seu lenço gaúcho, mas sim, calça moletom e  boné vermelho. Em casa pensei, repensei, trepensei em tudo que foi dito. Essa doeu viu...
A ‘Pedagogia da Impregnação’ citada por Jean Pierre P. em seu livro A Educação Pós Moderna, afirma que “desde o nascimento, vivemos imersos na pedagogia que se impregna no mais profundo de nós e cria nossos valores, normas e referencias educativos... é a realização de um ‘hábitus’, isto é, de um conjunto de código adquiridos de maneira precoce, que o indivíduo põe em prática na diversidade das circunstancias. Este conjunto gera condutas objetivamente regradas e regulares que não são, por isso, o produto de obediência as regras, mas disposições a agir em determinado sentido.”
Esta citação nos leva a crer que temos visões de mundo completamente diferentes um do outro, levando em consideração que nossos atos provêm de características culturais de um grupo.  Sendo diferentes, o que a Pedagogia da Impregnação afirma é que vamos reproduzir nossos atos enraizados no inconsciente em nossas ações diárias. Aonde quero chegar? Justamente no que Jean Pierre propõe afirmando que devemos nos disponibilizar a aprendizagem a partir da troca, a se relacionar com o outro, consigo mesmo e com a capacidade de reinterpretar suas práticas, hábitos tomando consciência de si mesmo.
Sinto uma grande dificuldade de me relacionar a partir da troca, geralmente acabo me doando mais do que recebendo. Finalmente ouvi isso de uma entidade que assim me disse em alto e bom tom. Esta foi minha primeira dose da noite. “ Você esta carregando o mundo nas costas e não coloca isso pra fora. Não se sente bem pra falar sobre você com alguém específico? Converse com uma árvore, um peixe ou uma flor...”
Cheguei em casa, não havia árvores nem tampouco peixes. A única coisa que vi foi um kiwi, abandonado na fruteira. É você mesmo pensei, afinal, você vem da natureza... Quase fiz um rostinho para parecer mais amigável, seu formato não me trazia lindas recordações e depois de ouvir tudo que o kiwi tinha para dizer, afinal, como um típico filho de iemanjá me coloquei todo a ouvidos. Comecei a contá-lo minha história. Pobre kiwi, mal sabia a longa noite que o esperava...
O Boiadeiro Juvenal desceu com um boné vermelho. Não tive o prazer de experimentar sozinho a segunda dose da noite, sem gelo. Todos sentiram o gostinho. Nunca tinha visto esta entidade se apresentar de forma tão ríspida, indignado pela falta de união da corrente, alertou-nos para que todos refletissem sobre seus atos e de que forma nossos atos individuais influenciavam nossa convivência em grupo. Pedagogia da impregnação pura. Difícil é saber qual o verdadeiro conceito de certo e errado, pois um dia Exú dos Rios me disse que as coisas que eu penso que estou fazendo certo, podem ser erradas. Já as que acho que estou errando, posso estar fazendo de forma correta! 
Confuso? Bastante ... As coisas começaram a se aquietar em minha cabeça quando lembrei de uma visita feita pela amiga Renata semana passada. Jogo do Coxa na TV, ela chega, senta e de forma quase ‘histérica’ começa a interagir com seu foco de atenção, a televisão. Como não morro de amores pelo esporte, meu vinho barato me aquietou, enquanto aos berros, Renata vivia cada momento do jogo na minha sala. Qualquer um se sentiria intimidado com jeito que falava aos jogadores da equipe que torcia. O que a movia a agir desta forma? Sem dúvida o amor pelo time.
Bernardinho, famoso técnico de vôlei, é conhecido por seus berros em quadra e sem dúvida pela competência única de guiar ao sucesso aqueles que estão a sua volta. Em seu livro ‘Transformando suor em ouro’ li uma frase que nunca esqueci: A disposição de uma equipe, o entendimento e a colaboração entre os jogadores na quadra podem ser mais decisivos que o brilho individual.
É querido kiwi! Tapa de amor às vezes dói sim.
A Pedagogia da Impregnação além de nos dizer que somos um caboclo de cada oca, diz também para que aceitemos nos ver com nossos erros e acertos, só assim poderemos refletir sobre nossa forma de agir para então ser constantemente redefinida e reconstruída. Com o olhar do outro, a escuta do outro e a troca com o outro é que faremos, dentro destas relações, as relações de nossos atos. Não sei se a dose bem servida de ‘sacode’ do Boiadeiro Juvenal foi para uma estrela específica que insistiu em brilhar mais que as outras ou para muitas estrelas que esqueceram que não são as únicas do universo. Via das duvidas, limitei-me a perceber se meu brilho não estava ofuscando o seu.
Mas o que então pode ser definido como atitude certa ou errada? Não tenho esta resposta, para uns esta ligada a um conceito de justiça conjunto, para outros, um conceito de justiça individual. Pensei, pensei, mas como diz o jornalista Caio Fernando Abreu: ‘O negócio é só sentir meu irmão, só sentir. Pensar já era. Pensar acabou, não se usa mais...”. Sinta seu bom senso, quem sabe ele o ajude a não ofuscar os outros com seu brilho individual. Ainda uso mais o pensar que o sentir, penso nos meus sentimentos, mas não ajo tanto sentindo caro kiwi.
Estamos caminhando de olhos vendados, alguns em rumos diferentes, outros no mesmo rumo. Não viemos do mesmo lugar, não temos a definição correta do certo ou errado, usamos sim o bom senso. Líder é alguém que, mesmo de forma ríspida quer que você continue caminhando. Ele sabe até onde você pode ir, nós às vezes esquecemos. Confie mais, ouça mais. O cara às vezes pode usar um lenço gaúcho, um chapéu de palha, uma bengala ou cocar. Se ele esta irritado por algum motivo, tenha certeza que alguma engrenagem neste motor não está funcionando muito bem. Se o ‘ sacode’ te incomodou tanto, repense.  Um ponto de vista é apenas a vista de um determinado ponto, sendo assim, tenha certeza que lá de cima se vê muito mais. Estamos de olhos vendados, ouvindo chamadas de atenção daqueles que nos amam. Segue e confia ...
Aaahh, quase esqueci. Quer ver o boiadeiro Juvenal de boné vermelho e calça de moletom? Assista ao vídeo aí em baixo.
É kiwi, você tinha razão. Agora vamos dormir!


domingo, 22 de maio de 2011

AMASIM

            Cheguei em casa, abri a porta e corri para o banheiro. Queria olhar no espelho. Fiquei alguns minutos me observando, com a cabeça envolta em um pano azul clarinho e o olhar fixo em mim mesmo. Engraçado como não percebemos a importância de algumas escolhas em nossa vida. E agora José? Minha casa silenciosa, típica de um rapaz de 25 anos que mora sozinho, ou atípica, não sei; deu vazão apenas ao som do meu pensamento.
             Ontem foi dia de festa na Tribo, dia em que o compromisso foi selado através do ritual de Amaci, onde alguns médiuns da casa disseram ‘sim’ a religião umbandista. Alegria e emoção deram espaço a um caminho marcado por responsabilidades. Não que antes não tivesse, mas o sim foi de um casamento. E agora José ? A festa acabou.
            Não cabia em mim de tanta felicidade e quando Seo Araimá perguntou-me se tinha certeza que era isso que queria pra mim, não tive dúvida ao responder. Ninguém teve. E agora José? A festa acabou. A luz apagou. Ao fim dos trabalhos, fotos e mais fotos, abraços e mais abraços, todos sinceros e acolhedores. Como é bom estar em família. E assim a casa se esvaziava, um a um, seguiam sua vida, sua semana, seus compromissos. A noite esfriou. ‘Cuidado para não pegar sereno com essa faixa na cabeça mocinho!’ foi a última coisa que ouvi.
E agora José? A festa acabou. A luz apagou. O povo sumiu. A noite esfriou. E agora José? E agora você?...
Carlos Drummond de Andrade

            Depois de algum tempo me olhando veio uma tristeza boa e comecei a chorar. Lembrei de alguns momentos da vida em que escolhas e situações determinaram meu rumo e me fizeram chegar até aqui. Em todos eles recordo exatamente como me sentia em relação a isso. Quando saí de casa com 17 anos para esta cidade, sem saber o que me esperava, estava agarrado a foto da minha família. Minha escolha. Quando meu tio faleceu, muito jovem, no velório colocaram em seu pé uma meia do palmeiras, o time do coração. Não tinha como eu agir sobre este evento, isso aconteceu e ele se foi. Hoje me agarro a um pano azul que esta amarrado em minha cabeça e vou lembrar disto para sempre.
            Carlos Drummond de Andrade com esses versos de ‘domínio público’ nos fala mais de perto, de nós mesmos e de nossa complicada existência. A maioria dos versos deste poema denotam uma sensação de perda e esvaziamento e esta ligado ao contexto histórico no qual ele foi escrito. Ano de atuação do Estado Novo no Brasil, 1942. Deste fato decorre uma série de acontecimentos políticos e econômicos que irão assinalar a sociedade brasileira, tais como a repressão política; o preconceito institucional e precariedade das condições de trabalho. Tudo isso influenciou diretamente a composição da obra. O caráter José serve para designar mais um na multidão.
            Não quero que atente para a tristeza, mas sim para os acontecimentos. Não quero que atente para um ser a mais na multidão, mas sim para você, importante e único. Minha festa não acabou nem tampouco minha luz apagou, muito pelo contrário. Confesso, todo fato que considero significativo, me assusta. Aos que escolho, seguir pelo caminho que acredito ser certo é meu remédio, e olha que tem remédios bem amargos. Aos que não escolho, posso até perguntar ‘e agora?’ para o José, mas prefiro perguntar ‘e agora Marinho?’, quando junto forças afirmo: É agora Marinho!
             Amasim. Fiz a escolha certa e disse meu SIM. Não teve arroz nem buquês no final mas o casamento aconteceu, pois quero para vida toda ser umbandista, na alegria e na tristeza. As escolhas nos assustam mesmo, mantenha a calma e aproveite a festa, ela só acaba se você quiser. E para enriquecer mais nossa cerimônia convidei o José, diga-se de passagem, um convidado de honra. Ele não é mais um na multidão, não mesmo, pois este é José Datrino, um homem que fez uma escolha e a assumiu até o final.
            Empresário, dono de uma transportadora de cargas no Rio de Janeiro que se viu sacudido por um acontecimento de grande força trágica: a queima de um circo na cidade de Niterói. Após seis dias ele recebe um chamado divino para que deixasse tudo que possuía e viver uma missão na Terra, assumindo uma nova identidade: Profeta Gentileza. Segundo o site Rio com Gentileza: “o profeta conta que acabou sendo internado três vezes como ‘débil mental, como maluco’. Numa dessas internações o médico conta a sua filha que seu pai estava tomando choque a toa, pois não era maluco. ‘Gentileza, você veio aqui para nós te curar ou para você nos curar?’. A partir de então sua figura singular passou a atrair toda sorte de atenção. Aos que o apontavam na rua como maluco ele dizia: maluco pra te amar, louco pra te salvar.”
            Uns dos seus maiores feitos foram seus escritos, dentre eles o maior, entre a Rodoviária Novo Rio e o Cemitério do Cajú em uma extensão de 1,5 km. Gentileza realiza seus 56 escritos murais sobre pilastras, e mais tarde sobre a superfície de concreto dando cor e vida a localização com mensagens de amor. Mas como Marisa Monte canta, ‘apagaram tudo, pintaram tudo de cinza’. Sua obra foi apagada pela prefeitura, fato este que causou protestos de artistas e comunidade em geral. Esta obra, agora recuperada, constitui uma cartilha com os preceitos básicos de gentileza. O mais popular, sem dúvida é: GENTILEZA GERA GENTILEZA.
            E agora Marinho? Mais uma importante escolha foi feita por você. É agora Marinho. Já que gentileza gera gentileza, gentilmente digo obrigado, quer dizer, obrigado não, agradecido, pois para nosso querido profeta, obrigado vem de obrigação. Sem obrigação nenhuma disse meu SIM.
Se por um momento em casa, me olhei no espelho e ‘balancei’, não foi por não ter certeza do meu sim, foi justamente por ter.
            Hoje estou agarrado ao pano azul clarinho, amanha não sei a que mais vou me agarrar e isto não é o mais importante, o mais importante é não parar de fazer escolhas nunca. O que é feito na Tribo ninguém pinta de cinza. Lá predomina o Azul clarinho, o vermelho, amarelo, verde, marrom, laranjado, branco, a sua cor, a minha, a cor do José. Assim vamos colorindo nossas escolhas, gerando gentileza e escritos com mensagens tão lindas quanto as do profeta.
SIM     


domingo, 15 de maio de 2011

FALOU E DISSE !

- O que é isso no seu ponto?
- Um sol.
- E isso?
- Uma lua.
- Aqui em baixo são ondas?
- Sim.
- E essa coisa em cima das ondas?
- Uma caveira.
- Hum... não parece uma caveira.
- Não né?
- Não.
- Nem te digo o que parece ...
(gargalhadas).

                Este sábado fui cambone do Sr. Exú Tranca Ruas e esta conversa diz respeito ao momento em que ele riscou ponto.
Esta sentindo o inverno? Neste exato momento ouço “Killing me Softly” e tomo uma taça de vinho. Não, essa música não reflete algum estado depressivo de minha parte. Por mais engraçada que possa ser a situação, esse Hit dos anos 70, juntamente com minha garrafa de Campo Largo, são para mim indícios de inverno. O frio nos deixa mais recolhidos, reflexivos. Aproxima e afasta. Nos aproxima  e afasta de nós mesmos. Se o calor nos despe, o frio nos veste. Ontem o que me vestiu foi o respeito pelo que vi.
Se você perceber em meu diálogo acima com o Exu Tranca Ruas, não o chamo de ‘Meu Pai’ nem tampouco digo ‘com licença, posso fazer uma pergunta?’. Preciso mudar minha atitude frente às entidades. É que me sinto ao lado de amigos e acabo falando como falo com qualquer outro que me cerca. Acredite, não se trata de falta de respeito. Em dado momento, Tranca Ruas pediu que eu enche-se uma taça com vinho e oferece aquela donzela (fazendo referencia a uma Pomba-gira que dançava). Em respeito a ele e ela, fiz.
Respeito é um sentimento de estima, específico de consideração pelas qualidades reais do respeitado. Do latim, “respicere”  significa olhar para trás. Junto com respeito vem a consideração,  identificação e o ‘colocar-se no lugar do outro’. Exú dos Rios disse ontem para não fazer-mos com os outros aquilo que não gostariamos que fizessem pra nós mesmos. Quer maior lição de respeito que esta?
O papo com o Exú dos Rios estava tão bom que perdi a noção do tempo. Hoje, no literal da palavra ‘respeito’, olhei para trás e achei minha noção de tempo no hit “Killing me Softly”. Um tempo passado que respeito. Nos anos 70 a música voltava a ser popular e tudo acabava nas pistas de dança. Como o amor ou a falta dele é uma constante em qualquer época, temos também as baladas românticas, como a que ouço agora. Se no rádio era só ‘Embalos de Sábado a Noite’, na televisão era ‘Irmãos Coragem’, ‘As pupilas do Senhor Reitor’ e ‘Gabriela’. Bateu saudades foi? Desculpa, com todo respeito, sou de 85. Nessa época devia estar planejando meu reencarne. Infelizmente, pois esta sem duvida é uma época que gostaria de ter vivido.
Olho para trás com respeito, para frente também. Ontem olhei para o lado e me deparei com vários exemplos concretos desta palavra. Enquanto um limpava o chão, outro acendia a vela. Enquanto uns davam as mãos, outro servia à donzela. Péssima rima, melhor parar. Se não convenço na rima, prometo me esforçar para convencer-lhes o fato de que ninguém é melhor que ninguém. Estamos sim em condições diferentes.
Exu dos Rios me contou sobre reuniões que são feitas no plano espiritual para tomada de decisões e que a palavra final era do chefe da casa, Pai Joaquim. “Rola algum quebra-pau nessas reuniões?” perguntei como falo com um amigo. Não, o que prevalece é o respeito. Somos todos iguais, em tempos, posições e situações diferentes.
Respeito é um dever. Não apenas com seu semelhante, mas consigo mesmo. Enquanto iguais, respeitemos a diferença. Enquanto diferentes, respeitemos de igual forma àquilo que nos faz crer que: sermos iguais, diferentes ou mesmo parecidos é o que nos esquenta por dentro quando lá fora esta frio. Salve o respeito, salve a diferença.
Exú dos Rios ‘falou e disse’!
Se você usa este termo, os tempos da brilhantina ainda falam alto ‘a beça’ em você ‘bicho’.“Killing me Softly” acabou faz tempo. Quem assume a trilha sonora do meu texto agora é  ABBA, outro marco dos anos 70.
 Respeito é bom e eu gosto.
Inverno é bom e eu gosto.
Hit dos anos 70 é bom e eu também gosto.
ABBA daba dooooo !!!!


terça-feira, 10 de maio de 2011

A GALINHA OU O PORCO ?

Não combina muito comigo, mas meu primeiro emprego foi voltado à área de informática, mais especificamente na Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória - FAFI. Dos 14 aos 16 anos, saía da escola técnica da qual me formei em Programação e corria direto para o meu emprego noturno. Nesta época recordo-me de um professor que insistia em não me chamar de Marinho, mas sim: Mário César. “Imagine... um rapaz deste tamanho ser chamado de Marinho. Mário César me remete a um imperador” dizia o professor Jeferson.  Eu, 14 anos, tímido, apenas o olhava com indiferença. Chame-me como quiser, pensava.
Tirei deste tempo vários aprendizados, inclusive o de que não era esta a vida que eu queria para mim. Quase concluindo o Colégio Técnico em Processamento de Dados, passava 4 horas diárias dentro de um laboratório de informática e mesmo a grande carga horária, não me fez sair do grau de aluno mediano. “Nunca fará nada direito se não estiver comprometido” dizia meu professor no tom de brincadeira que sempre o acompanhava. Na ocasião não avaliei a profundidade do seu conselho, mas era claro que ele queria dizer que eu não estava correspondendo a sua expectativa. Sábio conselho. De fato eu não estava comprometido porque não era o que realmente eu queria fazer.
                Esta semana em função do meu trabalho, não fui a Gira. Por conseqüência não faria sentido escrever sobre algo que não presenciei. Como um salvador à minha angustia, Pai Márcio me lança um tema: comprometimento. “Aguardo seu texto.” Finalizou.
                Ao receber a proposta da temática semanal recordei este fato do meu passado e juntamente com isso, não sei se antes ou depois, outra coisa me veio à mente. Uma frase freqüentemente usada em livros e artigos empresariais que ilustra o grau de envolvimento do sujeito, seja em sua vida profissional ou pessoal, fazendo referência a uma omelete:
Ovos com bacon: a galinha até topou contribuir, mas o porco precisou estar totalmente comprometido!


                Acho esta frase um pouco exagerada, pois simplifica algo que é mais complexo. Todos temos um ‘q’ de galinhas e porcos e o empréstimo do produto para nossos omeletes do cotidiano geralmente estão ligados ao que nos convém. Posso até ser reprovado nas entrevistas de emprego mundo a fora, mas não vejo a galinha como uma grande vilã. Principalmente pelo fato de que ela poderá fazer muito mais omeletes que o porco. Uma galinha poedeira em potencial, segundo o site empreendedorrural.com.br, coloca em média 280 ovos por ano e vive cerca de 80 semanas. Já o bacon é uma pequena parte do traseiro do porco que passa por um processo de defumação.
                Sem a pretensão de chamá-lo de ‘galinha’, longe de mim. Seja aquele que faz mais, com o maior nível de envolvimento possível. Digo possível pois aderir ao comprometimento suíno em todos os âmbitos da nossa vida é uma missão se não impossível, no mínimo massacrante. Ponderando conseguimos dar a melhor parte de nós, conservando o que há de melhor em nós. Isso é comprometimento. Algo que eu realmente quero fazer munido da melhor parte de mim.
O comprometido surpreende. Faz a mais sem ser solicitado. Esquece qualquer sentimento de interesse. E quando o comprometimento individual encontra um esforço conjunto? Ohh coisa boa!
Steve Jobs, um dos fundadores da Apple, deixa-nos algumas lições que já entraram para história:
1)                          A única maneira de fazer um grande trabalho é amar o que você faz. Se você ainda não encontrou o trabalho que preenche seus sonhos, não se acomode. Com todas as forças do seu coração, saberá quando encontrar.

2)                          ‘Uma mente aprendiz’. É maravilhoso ter uma mente aprendiz.

3)                          Nós existimos para deixar uma marca no universo. De outra maneira, por que estaríamos aqui?

Encontrei na umbanda coisas que realmente amo fazer. Na maneira que às faço me comprometo com elas e comigo. Você também deve ser assim. A mente aprendiz compromete-se com o novo. Por conseqüência inova admirando, respeitando e confiando. Não existe comprometimento sem admiração, respeito e confiança.
Qual marca você quer deixar no universo? Ou você esta aqui à passeio?
Comprometa-se em primeiro lugar com você mesmo. E sem querer te comprometer, espero que seja sempre uma grande galinha. Faça mais com o maior nível de envolvimento possível.

Quer ver pessoas comprometidas com o mesmo objetivo? Surpreenda-se!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

CURA E FELICIDADE

Poderoso rei que depois de vários casamentos fracassados escolheu uma bela jovem como esposa. Antes de uma viagem, o monarca ofereceu a sua prometida as chaves do palácio, com a ressalva de nunca entrar num dos aposentos que se abria com uma pequena chave dourada.
A jovem percorreu o luxuoso palácio, porém, intrigada e curiosa pela proibição, quebrou a promessa e abriu o quarto secreto que guardava os cadáveres das ex-esposas. O rei descobriu a desobediência e a jovem conseguiu se salvar por milagre, defendida por seus irmãos que mataram o rei.
Esta é a famosa história do Barba Azul. Você já deve conhecê-la.
                Mais um domingo daqueles preguiçosos que me leva a passar o dia inteiro em frente à televisão, vendo programas que até então eu não acreditava me acrescentar algo construtivo. Ledo engano. Acompanhei a história de uma filha que depois de 30 anos queria reencontrar sua mãe. Esta havia sido doada por ela quando criança, e no palco daquele programa de entretenimentos, o reencontro aconteceu. A palavra norteadora deste texto é sem dúvida o perdão. De um lado, a mãe que entregou sua filha quando criança, do outro, a filha, que movida por motivos maiores que nosso entendimento não queria nada mais que reencontrar sua genitora. Lágrimas. Muitas delas, minhas.
                                O perdão é um processo mental ou espiritual de cessar o sentimento de raiva ou ressentimento contra outra pessoa ou si mesmo, decorrente de uma ofensa percebida, diferenças, erros ou fracassos, ou cessar a exigência de castigo ou restituição. Não é o esquecimento completo e absoluto das ofensas (impossível), mas sim diz respeito ao nível de maturidade que temos para lidar com estas. Vem do coração, é sincero, generoso e não fere o amor próprio do ofensor. Não impõe condições humilhantes tampouco é motivado por orgulho ou ostentação. O verdadeiro perdão se reconhece pelos atos e não pelas palavras.
Charles Perrault nos presenteou com contos que embalaram a infância de um inestímavel número de crianças por todo o mundo. Ainda embala. O olhar que quero propor é aquele que resgata conceitos guardados no conto do Barba Azul e vão muito além de um rei assasino e cruel. Convido você a, desarmado, me dar a mão e passear por uma estória épica, sensível e contemporânea, acredite.
O quarto proibido representava o passado do rei, que deveria ficar oculto. Ao ser revelado  é motivo de rancor.
Nosso passado é diretamente responsável pelo que somos hoje. Nele contém fatos que por muitas vezes não sabemos lidar, por outras sabemos e por outras ainda preferimos trancar em um quarto com uma pequena chave dourada. Quando esta porta é aberta, seja por mim ou outro, alguns fantasmas vem a tona. Na umbanda vejo centenas de pessoas sentando em frente às entidades com esta chave na mão. Sem coragem de abrir, pede que a entidade em sua frente o faça. Vejo também pessoas com a porta já aberta, resolvendo se vão correr atrás desses fantasmas e colocá-los um a um no lugar do qual nunca deveriam ter saido. Outras simplesmente não comentam a existencia de determinadas portas e por olhar demais pela janela, associam muitos dos seus fracassos ao fora. Não estou aqui para dizer a você leitor, que pegue suas chaves e saia abrindo portas. Repito uma citação que fiz de Clarisse Lispector no texto anterior: “Até cortar nossos próprios defeitos pode ser perigoso. Ninguém sabe o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...”. O que faço questão é propor uma tomada de consciencia. Sim, todos temos portas. Algumas bem fechadas, outras nem tanto. Todos.
Quando o rei oferece a chave e proibe. Estimula a curiosidade.
                O mesmo rei que não quer seu quarto aberto, oferece-a a chave do mesmo.
A curiosidade existe, isto é fato. Abrimos portas e oferecemos diversas chaves de forma inconsciente ou mesmo consciente. Nosso mais profundo interior deve mesmo ser revelado ou seria algo de cada um? Quantas coisas nos induzimos ou somos induzidos? Então, o que acha de induzir o perdão? A partir da nossa tomada de consciencia, juntos, vamos tecendo um raciocinio acerca dele, antes que acabemos abrindo portas que não conseguiremos mais fechar.
Não pode-se negar que o perdão esta diretamente ligado a um contexto religioso. Eu me perdoo ou perdoo o outro e me elevo. Tanto me elevo a ponto de colocar o outro na condição de culpado. Se do contrário, se preciso do perdão para continuar, acabo me colocando na condição de culpado. Porém, entre culpados e perdoados, o erro continua existindo. Complexo ? Nem tanto se entendermos o perdão de outra forma.
Constantemente nos colocamos na condição de julgar e darmos o perdão a alguém, ou sermos perdoados. Porém, quando nos reconhecemos como humanos veremos que também podemos errar, assim como o outro. Não existem formulas para ligar com erros e acertos, por isso insisto na tomada de consciencia. Tomada esta que coloca todos no mesmo nível e condição, a condição de seres humanos, ´errantes´ e ´acertantes´ que somos. Acredite, perdoar tem mais a ver com aceitar, reconhecendo-nos enquanto seres humanos. Não precisamos então colocar-nos no papel do que erra ou acerta, traído ou traidor, culpado ou inocente. Não sou mais forte que ninguem, nem você. Sei que lidar com erros e acertos e principamente com a aceitação é algo no mínimo torturoso. Mas porquê nao darmos uma chance a nós mesmos? Não ao outro, a nós mesmos.
Barba azul matava suas ex-esposas. Você não precisa matar seu passado, apenas reconhecê-lo como algo que te fez crescer.
Opss , não falei nada sobre a gira ontem ? Bem, a primeira parte foi linha do Oriente – CURA – já a segunda, Ciganos – FELICIDADE. Preciso dizer mais ?
SARAVÁ a todos nós, seres-humanos. Você não é ser-humano ?