Meu almoço de dia dos pais foi feijão com arroz. Papai almoçou lasanha em companhia da minha mãe, irmã, tia e primas. Papai sempre merece tudo de melhor e o feijão com arroz deste domingo teve gosto de lasanha, como se eu estivesse lá. Essa tal distância nunca separou ninguém. Ano de Iansã, assim dizem. Este mês em especial, uma ventania de contas levou todo meu dinheiro. Oh minha mãe, tantas outras coisas eu queria que a Sra. levasse, porque justo meu dinheiro? Sem abrir mão de um vinho aos domingos, não tive dúvidas, parcelei um de R$ 6,00 em 3x no visa, e cá estou.
Tenho este jeitão meio velho mesmo. Gosto de morar sozinho, pensar sozinho, caminhar sozinho. Gosto também de saber que apesar de tudo não sou sozinho. Nas principais datas comemorativas não estou com minha família e nas datas habituais, cá estou, passo a passo de mãos dadas comigo. Sou esta pessoa. “Eu que me agüente comigo e com os comigos de mim...” Outro Pessoa, o Fernando, traduziu nesta frase a individualidade e a versatilidade da personalidade de cada um. Quantos ‘dades’ ein! Se fosse falar apenas sobre isto, não seria tão difícil, porém, meus ‘eus’, estão em constante mudança e adaptação em relação aos ‘seus’ e aos ‘nossos’. Fica a pergunta que não quer calar: Eu preciso me agüentar com meus vários ‘eus’, mas, as outras pessoas precisam? Obvio que não. O vento de Iansã se encarrega de gerar mudanças, aproximando e afastando pessoas, coisas, pensamentos, ações, hábitos. Tudo bem, o ano pode até ser de Iansã, então aproveitemos para fazer as mudanças que precisamos em nossas vidas, já que a energia é propicia para tais atos, mas, que elas sejam realizadas dentro da justiça, da calma, do acolhimento, da reflexão, força e determinação.
O parágrafo mudou, a reflexão acerca de mudanças ainda não. A última gira da Tribo foi de Exú, literalmente a última. Acredito que nosso terreiro tem vida própria, e está acima das vontades de qualquer individualidade que seja. Desde que estou em Curitiba, mudei-me de casa 8 vezes. A Tribo esta mudando de casa a primeira. Em todas as vezes que saía de uma, parecia que nunca encontraria o lugar certo pra mim. Sempre encontrei. Ainda estamos procurando e sabemos que vamos encontrar o espaço certo, não o perfeito. Nossas imperfeições geralmente transpassam a nós mesmos deixando o espaço assim como nós, mutáveis e imperfeitos. Será que devo colocar um anúncio no jornal? Algo do tipo:
Procura-se um espaço com:
- Uma Sala onde a assistência possa ser bem atendida como merece. E ali, o lado espiritual fale mais alto que qualquer vontade individual. Onde a corrente possa girar em pensamentos positivos e estes, movam e acentuem minha vontade de ajudar, não somente ‘eu’ e meus vários ‘eus’, mas a todos os ‘vocês’; em forma de abraço sincero naquele que conta comigo, em forma de palavras de carinho naquele que por ventura possa me magoar. Para que eu pratique o perdão, o sorrir e o chorar.
- Um banheiro onde eu possa tirar minha roupa do dia-a-dia e junto com ela tire aquilo que me faz mal, aquilo que me faz pensar mal e principalmente aquilo que está tão em mim que não me dou conta e possa me conscientizar que se esta em mim sou eu. Mas minhas roupas são diferentes das suas e, sua forma de vestir-se pode não me agradar, mas preciso respeitá-la. Que eu possa colocar o branco e perceber que sou igual a qualquer um, nem mais, nem menos. Sendo igual, minha fome não é maior que a sua, nem tampouco minha sede. Meus problemas não são maiores que os seus e, que minha vontade de ajudar os outros precisa sim, ser maior que minha vontade de ajudar a mim mesmo.
- Uma pequena área externa para eu me dar conta que, por melhores que sejam os aprendizados que absorvo na gira, existe um mundo lá fora, e se eu não colocá-los em prática, de nada adianta eu girar. Que aquilo que eu faço é mais importante do que aquilo que eu falo. Que em meio às pequenas confraternizações nesta área externa, eu perceba que cabe a mim te ouvir sim, mas não me cabe querer transformá-lo simplesmente por acreditar que minha interpretação sobre aquilo que ouvi, me faz acreditar que a forma que eu agiria em seu lugar, é a forma correta de agir.
Sou um verdadeiro apaixonado por mim mesmo. Nem se trata de vaidade, falo isso com modéstia. Apaixonado pelas minhas qualidades e até por meus defeitos. Minha paixão move meus atos, já minha razão delimita-os. Como um apaixonado de plantão, invento trilhas sonoras para todas as situações pela qual passo. Hoje a trama do meu filme segue ao som de Peppino, o di Capri, não o legume. Como em uma paixão, me decepciono comigo mesmo e me encanto a cada instante. Enquanto ouço ‘Um Grande Amore e Ninte Più’, sou invadido por uma grande paixão. Não somente aquela paixão romântica, mas a paixão ligada a fé, que não deixa de ser um romance mas, que me faz acreditar que posso ir além e tudo vai dar certo no final. Ok, eu paro, esse papo de paixão esta te deixando meio enjoado? Ouça a musica e tente não ser contaminado por tal sentimento.
Paixão muda o que sou por dentro, o resto, são mudanças que acontecem fora. Se mudo o dentro mudo o fora. Tudo novo de novo. Tudo de novo, novo. Fernando, o Veríssimo, não o Pessoa, fala que:
“O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos e seus atos. A maneira como você encara a vida é que faz toda diferença. A vida muda, quando você muda.”
De Fernando em Fernando o Marinho enche o papo, e, por falar em papo, ele está ótimo, acredite, mas a hora da mudança chegou. Precisamos mudar de espaço, de velhos hábitos e principalmente de velhas opiniões. Hoje o feijão com arroz foi um verdadeiro banquete, mas eu não comeria apenas isso todos os dias.